Era o ano de 1850, o império estava forte ainda no reinado
de Dom Pedro II, o Rio de Janeiro com seu ar provinciano respiravam tempos de grandiosidade,
a sociedade era formada por famílias abastadas que possuíam muito dinheiro, na
sua maioria grandes fazendeiros de café que estavam comprando imóveis para
aumentar seus patrimônios que eram gigantescos e cada vez ficavam mais ricos as
custas da exploração dos escravos que eram tratados como animais não tendo direitos
a nada e nem a sua liberdade.que é a mais preciosa joia que um ser humano pode
ter .
Quanto a eu
Deolando era filho de escravo que havia ganhado a carta de alforria do senhor Claudionor
por ser comportado e cuidava dos afazeres da casa grande nas suas necessidades , entretanto com o tempo senti necessidade de
alçar meu próprio vôo trilhar meu próprio caminho com isso fui trabalhar com
seu Euclides um alfaiate muito renomado na cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro, muito bom naquilo que fazia.
Na lida do Dia a
Dia me ensinava como fazer uma calça, terno e a fazer uma barra de calça, e
fazer bem feito, pois os clientes eram muito exigentes, ministros do império e
fazendeiros de café, pessoas da mais alta sociedade pessoas com muito dinheiro.
Em uma dessas
visitas é que conheceria Antonieta filha do Ministro Aristides que na época era
ministro do trabalho, ao me ver Antonieta sorriu para eu , estava trabalhando
no fundo da alfaiataria quando chegou e disse:
- Olá como
vai?
Então respondi:
- Tudo bem, como
se chama a linda moça?
E ela respondeu:
-Me chamo Antonieta e estou com meu pai que está aqui
acertando os preços de um terno.
Em seguida ela perguntou:
- E você como se chama?
Então respondi:
- Meu nome é Deolando ?
Então ela disse e sorriu:
- Nossa! Que nome engraçado nunca vi um nome assim
A nossa conversa era prazerosa Antonieta era muito bonita,
olhos verdes, cabelos loiros, pele rosada, um encanto, uma princesa, que meus
olhos mal podiam levantar sequer para vê-la, muito linda tanto por fora como por dentro como ser humano.
De repente chega
seu pai seu Aristides e fala para Antonieta o que faz aqui falando com
empregados? , já para dentro, não foi esta educação que lhe dei em seguida respondeu
para eu não quero saber de ficar conversando com minha filha , ela está
prometida em casamento para outro , um filho de um senador não com gente da sua
espécie , aquilo me chocou eu muito pois ele não queria nem que eu conversasse
com a sua filha pelo fato de ser negro , foi ai que eu em um impulso respondi:
- O Senhor respeita a minha pessoa, pois todos somos filhos
de Deus não existe ninguém Melhor que ninguém, o fato de ser negro não me
diminui pelo contrario me enaltece pois ajudei a construir a riqueza deste pais
, e enquanto ao ser senhor fique com a sua arrogância.
Nesse momento o
senhor Aristides baixou a cabeça e disse:
- Desculpa-me é que
há muita gente interesseira e oportunista querendo fazer a corte com minha
filha peço desculpas pelo meu mau jeito.
Então disse:
- Não precisa pedir desculpas o que o senhor disse agora
pedindo desculpas é da boca para fora na realidade o senhor tem preconceito com
a cor negra.
Ao dizer isto seu
Aristides foi embora cabisbaixo e muito nervoso com sua filha Antonieta, ao
passar este momento seu Euclides se aproximou e disse:
-Muito bem
Deolando é isso ai! Você mostrou que tem fibra, não deixe ninguém nunca te
humilhar pela sua cor, pois todos somos filhos do altíssimo e ninguém é melhor
que ninguém.
Então respondi a
sue Euclides:
- Seu Euclides eu sei do meu valor nunca ninguém irá me
humilhar a minha pessoa.
A rotina de vida era trabalhosa, trabalhava bastante para
seu Euclides e sonhando com objetivos melhores para minha vida e estudar que
era meu grande sonho, que naquela época era muito difícil, pois somente as
pessoas da elite e que tinham condições de estudar, e isso não se encaixava a
minha pessoa, mas seu Euclides vendo a minha vontade de Estudar disse para eu
ir ao colégio Pedro II referencia na época de estudo, pois somente estudava a
elite da sociedade imperial.
Disse para aproveitar
meu tempo e estudar, pois era muito inteligente e o estudo ninguém tiraria de
mim , seguindo o conselho de Euclides fui ao colégio Pedro II ver como fazia
para estudar lá , quando entrei no Prédio , percebi que aquele mundo era muito
diferente do que eu vivia com jovens bem vestidos , moças refinadas e eu na
simplicidade negro como romperia com aquele ar de arrogância que estava ao meu
redor , mas mesmo assim fui para dentro do Prédio e disse para eu mesmo ninguém
é melhor do eu sou filho de Deus e Deus vai me ajudar.
Ao chegar à
diretoria fui falar com o senhor Atanásio Diretor do colégio Pedro II ao me ver
disse:
- O que faz você aqui?
Então respondi
- Estou aqui para ver como faço para estudar aqui
Ele respondeu:
- Eu acho que você está no lugar errado, aqui não é lugar
para pessoas da sua cor aqui pessoas como você não estudam aqui, estudam
somente pessoas ricas do Império e filhos de altos fazendeiros ao que me consta
você é um pobre coitado.
Nessa hora respondi:
- O senhor esta redondamente enganado aqui é uma escola
Publica e se é um escola Publica eu tenho direito como os outros alunos , não
venha discriminar a minha pessoa pois sei muito bem dos meus direitos .
Ao dizer isto seu
Nicolau um jornalista importante que tinha filhos que estudavam no Colégio e
trabalhava no Jornal A Liberdade disse:
- Ele está certo seu Atanásio o senhor está comportando de
forma muito arrogante e preconceituosa.
E em seguida Perguntou
meu nome
Qual o seu nome?
Então respondi:
- Meu nome é Deolando.
E depois disse:
- Se você quiser Deolando eu publico isto no jornal como
forma de preconceito que não pode ser admitido.
E nesse instante eu respondi
- não precisa seu Nicolau, obrigado! O que ele tem que fazer é dizer como devo
fazer para estudar.
Nessa hora vendo que não era bobo seu Atanásio encurralado
por seu Nicolau
Disse:
- Como você quer estudar aqui você tem que fazer o seguinte,
aqui para estudar você ter que fazer umas provas e se você for aprovado você
estuda aqui.
Nesta hora
perguntei:
- O que devo estudar?
E ele respondeu:
- retórica, gramática, calculo, geografia, geometria e
História.
Ao dizer isto ele anotou em um papel os livros que deveria
estudar, e disse que os encontraria na biblioteca nacional, ao sair do colégio
fui a biblioteca nacional, procurar os livros para estudar e ser aprovado , ao
procurar na biblioteca encontrei todos os livros.No outro dia cheguei a
alfaiataria e seu Euclides disse :
- Como foi
Deolando? Conseguiu fazer a matricula no colégio
E então respondi:
- Não seu Euclides, tenho que estudar algumas matérias que
são pedidas, se passar nas provas estudo lá, mas não desistirei estudarei e
serei aprovado.
Vendo a minha disposição para o estudo seu Euclides disse:
- Deolando eu vou te ajudar, você não precisa trabalhar o
dia inteiro tire um tempo para você estudar.
Depois seu Euclides perguntou:
- Que dia será a prova?
Então disse:
Será no dia 08 de fevereiro uma segunda-feira.
E então seu Euclides disse:
- Nossa! Deolando você está apurado é na segunda-feira que vem
hoje já é quarta – feira.
Então respondi:
- Pode ficar tranqüilo seu Euclides estudarei e serei aprovado.
A minha vida estava agitada trabalhava e estudava para valer,
às vezes ficava altas horas de madrugada estudando até as três horas da madrugada,
tanto que seu Euclides disse para eu manerar um pouco pois chegava muito
cansado ao serviço e poderia ficar doente e isto não era bom para minha saúde
pois não podia extrapolar .
Mas enfim com afinco e dedicação estudei as matérias e chega
o dia esperado 8 de fevereiro tomei um banho me arrumei , peguei o lapís ,
borracha e caneta e fui para o meu maior desafio mostrar que seria capaz e que
não era inferior a ninguém.
Ao chegar ao colégio seu Atanásio disse:
- Como está, está preparado será que você vai conseguir?
Rindo e abusando de mim falava isso as gargalhadas com seus
amigos imponentes e dizia ele se acha capaz , ao entrar na maior simplicidade
pedi a Deus e a Nossa senhora do Rosário que iluminasse minha mente pois queria
mostrar meu valor.
A sala esta lotada,
pois além de mim estavam filhos de fazendeiros que olhavam para eu
fazendo desdém de minha pessoa , um deles Dioniso filho de um rico
industrial disse com tom de abuso:
- Será que ele vai dar conta de responder as perguntas e ria
as gargalhadas com Ediberto um amigo afetado que se achava o tal.
Ao sentarmos seu
Atanásio passou os exercícios no quadro das matérias e pediu que teríamos que
ser breves nas nossas respostas , pois então seriamos eliminados
Ao escrever tudo no
quadro comecei a responder todas as perguntas uma a uma seu Atanásio se
admirava com a minha perspicácia enquanto os filhos da elite estavam tendo a maior
dificuldade, ao terminar a prova fui o primeiro a entregar a prova e enquanto
os outros não conseguiam responder a primeira pergunta.
Quando todos entregaram as provas seu Atanásio corrigiu
todas as provas e disse ao aproximar de mim
- Parabéns Deolando você foi o único que tirou dez na sala
eu fiz pouco de você.
E disse aos demais alunos:
- Vocês sigam o exemplo de Deolando, pois apesar dele não
ter as condições que vocês possuem ele saiu muito melhor que vocês, vocês devem
se envergonhar, pois são filhos de gente abastada e não querem estudar enquanto
ele demonstrou que é capaz melhor do que vocês.
Nesta hora vi a
cara de sem graça de Dioniso e Ediberto, pois tinham abusado de mim e na prova
haviam tirado zero não conseguindo responder nenhuma questão, aquilo foi um
momento de grande alegria para eu, pois estava demonstrando a minha capacidade
a todo mundo que apesar da minha cor negra era muito mais digno que aquela
gente que se encontrava ali de pessoas refinadas. Passado isto efetivei a minha
matricula e com o decorrer dos anos com muita luta e dedicação estudava com
afinco era o melhor dos alunos sendo elogiado pelos professores como o
professor Emival que sempre dizia que era exemplo para todos, enfim com muitas
idas e vindas conclui o ginasial e todos os estudos que restavam por fim com
muito esforço e dedicação comecei a trabalhar no Jornal Diário do Rio de
Janeiro como secretario, mas meu grande sonho era trabalhar como Jornalista, os
anos passaram e então fui aprovado na Universidade Joaquim Teles luta e
dedicação são sinônimos de minha vida com muita garra e esforço, conclui meus
estudos e estava trabalhando como Jornalista no Jornal Diário do Rio de Janeiro
nesta época em 1892 o império de Dom Pedro II havia ruído e a republica estava
nos seus primeiros tempos sendo governado pelo Presidente Marechal Floriano
Peixoto , a escravidão havia sido
extinta e agora estava conquistando todos os meus sonhos era respeitado com
Jornalista tinha uma coluna diária que abordava política e lutava pela
igualdade entre negros e brancos.pois todos somos filhos de Deus .
Um dia andando pelas ruas do Rio de Janeiro encontrei com
seu Aristides velho, decadente pedindo ajuda aos transeuntes que passavam, ao
me ver quase não me reconhece , ao me
olhar disse:
- é você o
Deolando da Alfaiataria?
Então disse:
- Sim sou eu
Nesta hora respondi
- O que faz um antigo ministro do trabalho aqui pedindo
esmolas?
Então respondeu:
- Ao sair do ministério minha vida ficou complicada fiz
algumas dividas que não deveria ter feito tive que vender algumas propriedades,
fazendas e hoje estou aqui nesta penúria tendo que pedir esmolas na rua, pois
não tenho condições estou na profunda miséria.
Ao saber das minhas dividas o senador Horácio não quis saber
que seu filho casasse com minha filha e disse que não pertencíamos mais a seu
mundo e que ele iria casar seu filho com a filha de um dono de uma fabrica de
sapatos de Lisboa.
Nessa hora respondi:
- Onde está Antonieta?
E seu Aristides respondeu:
- Ela está na casa de sua tia Carminda trabalhando como
costureira.
Então falei:
- Onde fica o lugar onde ela mora?
E seu Aristides disse:
- A casa onde ela está morando fica no largo do machado.
Ao dizer isto fui
correndo ver a minha amada que estava no meu coração há anos , ao chegar na
casa da sua tia Carminda bate na porta e dona Carminda abre a porta e diz:
- Quem é você o que deseja?
Então respondi
- Meu nome é Deolando sou amigo de Antonieta estou aqui para
vê-la.
Do lado de fora
escutei quando sua tia disse meu nome, ela se regozijou de alegria e disse:
- é o Deolando quero vê-lo há muito tempo que não o vejo
chame que eu quero vê-lo
Ao longe avistei
Antonieta simples humilde, mas com aquela beleza sem igual que não havia
perdido com o tempo . Ao me ver disse :
- Deolando é você?
Então respondi:
-Sim sou eu
E depois ela disse:
Como estão as coisas?
E nesse instante respondi:
- Estou bem estudei bastante formei em Jornalismo trabalho
como jornalista no Jornal Diário do Rio de Janeiro e agora estou com uma vida estabilizada com
alguns imóveis que consegui comprar com esforço do meu trabalho. Nessa hora
Antonieta disse:
- Pois é Deolando a minha vida mudou completamente acho que
você já esta sabendo não estou bem financeiramente tendo que pedir ajuda a
minha tia para ajudar na costura e meu pai tendo que pedir ajuda como mendigo é
muito triste.
E nessa hora falei:
- Eu sei de tudo isso Antonieta eu estou aqui para te dizer
que eu te amo que estes anos todos você esteve em meus pensamentos, quero
assumir um compromisso serio com você, casar com você.
Neste momento
Antonieta respondeu:
- Nossa! Deolando,
eu também te amo desde aquele tempo, mas será que você me aceitaria apesar da
minha pobreza e se casar comigo.
Nesta hora respondi:
- Lógico que aceito como disse eu te amo e a sua condição
social não importa eu quero fazê -la feliz .
Ao dizer isto ela disse:
- Eu aceito a sua corte Deolando.
Quando terminou de
dizer abraçamos e beijamos e com isto as nossas histórias se unem e com muitas idas
e vindas que a vida reserva casamos no dia 30 de Abril de 1895 na igreja da glória
no Rio de Janeiro, seu pai Aristides já não se opunha ao nosso casamento sabia
que havia cometido vários erros e o pior deles a discriminar eu pela minha cor e agora quem o estava
ajudando e cuidando na sua velhice era eu
e não era mais discriminado e sim elogiado pelo senhor Aristides que um
dia achava que eu não era nada , como o mundo dá voltas as nossas lutas cada
dia venceríamos pois o amor estava conosco dando forças para sustentar as
nossas vidas , o amor da minha vida que conheceria na simplicidade da
alfaiataria de seu Euclides , homem de bom coração que me ajudou e sempre
acreditou em mim e hoje está junto de Deus olhando por nós.
A alegria está no
meu coração, o amor de Antonieta que está sempre a me alegrar, um amor divino,
Sereno que aconteceu na época de grande discriminação, um amor que aconteceu no
império é meu grande amor e eterna Paixão.
- FIM-