sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Conto : A Vila Esperança - Autor : Ruy da Penha Lôbo

 

De todos os momentos  da  minha vida eu Henrique  Moraes visitando as recordações do  meu passado  mas  precisamente  em  1972 revivi com   a alegria  a vida simples , pura e bucólica e sentimental  da Vila Esperança interior de Goiás que  possuía na época  mil habitantes  era um lugar sereno , calmo onde a harmonia se fazia presente nos pequenos detalhes do amanhecer  ao entardecer  possibilitando  a sua singularidade em  um por do sol  que até hoje nunca vi em nenhum  outro lugar do mundo.

  Nessas  visões  do passado recordo da vida dura  de meu  pai Antenor  e minha mãe  Marta que trabalhavam na pequena roça que tínhamos próximo  a Vila  Esperança  cuidando  dos bois,   vacas e  da produção de queijo  para ser  revendida  na Vila  , em nossa residência   tínhamos  uma  horta que plantávamos para ser  vendida  nas casas sendo alface , tomate e, também  uma plantação de  laranja , morango  e  outras frutas.

Eu  Henrique  sentia  a  felicidade  em   minha vida infantil jogando  bola , bolinha de  gude junto com  os meus  amigos Péricles e Fausto  em  uma irmandade que hoje não existe mais  e não  se vê  fruto  de uma sociedade  comunitária o  oposto  de  hoje  que  é  um mundo individualista  que  é presa  aos bens materiais  e não  valorizando  o ser  humano  na  sua  plenitude que é  o  mais importante  pois  é  a criação  de Deus.

No  cotidiano  de  Vila Esperança  todos os anos  havia  as festas juninas com terços , rezas e após  a  missa quadrilhas que alegravam  a Vila e possibilitavam um sentido  ao nosso  viver com prendas  que eram leiloadas  no coreto  que ficava perto  da igrejinha  de Santo  Antônio que nesses  dias  além  das pessoas  da  Vila  também vinham  pessoas de  outros lugares  fazendo  que  a  festa  tornasse  completa  na sintonia  da  emoção  que  fortalecia nossa  fé.  

 No  dia a dia  em função da agricultura  que era praticamente a  base  econômica  da  Vila, os únicos que trabalhavam  em  uma área diferente era  senhor Aristeu   e  senhor Ezequiel que  trabalhavam no comércio , senhor Aristeu tinha um pequeno  armazém  onde se vendia  os itens  de  primeira necessidade  e  também  outras utilidades  que facilitavam  a nossa  vida, enquanto  o  senhor Ezequiel  tinha uma venda que  vendia  bebidas , salgados  de todos os tipos  e era  também  muito  freqüentado  por  toda  a  população.

 A  vivência  dos dias não se percebia  os minutos que passavam, mas somente  momentos eternos  de reflexão , acolhida  e felicidade , o sol que despontava  trazia a percepção que iríamos alegrar com simples sentimentos que aconteciam  no expressar  de cada palavra , gesto e ação.   A maior das  felicidades  que recordo  foi um dia ganhar  uma bola  vermelha  de plástico de presente de natal  e ir brincar com meus amigos Péricles e Fausto  em  um campinho que existia próximo  à nossa  casa e era frequentado por todos os meninos da  Vila , aquele presente foi o maior tesouro da minha vida  pois  foi  dado com muito sacrifício pelo meu pai  Antenor  que   se  alegrou ao ver  os olhos de  felicidade  em  que  eu  estava.

   Meu  pai  Antenor  era  querido  na Vila  sempre  pronto a ajudar as pessoas nas suas dificuldades , minha mãe Marta trabalhava de sol a pino com meu pai na roça , nas horas vagas fazia biscoitos, bolos , roscas para serem vendidas na venda do senhor Ezequiel enquanto  a mim  Henrique quando minha mãe e meu pai iam para  a lida no campo deixavam  aos cuidados  de  minha  tia  Mirtes  e  de meu tio Ferdinando , eu achava  tudo  ótimo  pois brincava  com meus  primos  Raul e Ricardo jogando  bolinhas de  gude o dia inteiro somente descansava  quando  o  almoço  de  tia Mirtes  ficava  pronto  que  era  delicioso.

 Hoje  em  Goiânia  no ano de 2020 no mês de março sentado  em  uma  poltrona  trabalhando na  área de engenharia   sendo  um  belo  dia de domingo  na minha casa no setor universitário  lendo  um Jornal adormeci  e retornei   a  todos estes fatos  , detalhes  de minha história de vida , singela e pura  onde a simplicidade se fazia presente.  Após alguns anos  com o declínio da  agricultura os moradores de  Vila Esperança  foram  se mudando saindo indo para outros  lugares onde poderiam  viver , inclusive meus pais ,viemos para  Goiânia  onde meu tio Armando  arrumou um emprego  para  meu pai na loja  que possuía  que era  de  tecidos no centro  da cidade enquanto a minha mãe cuidava de mim ,  vários anos depois passando em uma rodovia  que passava  próxima  à Vila Esperança ,  vi  que  ela estava deserta , vazia, sem  a alegria  dos tempos passados , tudo  isto doeu  meu coração  e fez  pensar que  a  felicidade  que  tenho  hoje  com Catarina minha esposa , meus filhos  Marcos  e Claudia nunca é igual a Vila Esperança  que vivi  pois é  a constatação  que  a felicidade  existia  e hoje  tenho   memórias  que vão  ficar em  toda a minha  história  para ensinar  que  os  minutos  devemos  aproveitar  e  se alegrar.                                               - 

                                           -   FIM   -

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